GESCHICHTLICHKEIT



Bruno dos Santos Queiroz

       O vídeo faz um resgate da história ocidental. Em linguagem hegeliana, o vídeo traça as pisadas do Espírito Absoluto ao longo da História. Historicidade narrada mais sob o desenvolvimento das ideias e sua materialização na concretude do processo histórico do que da história concebida apenas como uma série progressiva de eventos e acontecimentos. No princípio era o ovo, o berço da história ocidental em suas raízes na ética judaico-cristã e na filosofia e no direito greco-romano. A ética judaico-cristã tem sua expressão na Bíblia Sagrada e a filosofia e o direito greco-romano no tratado sobre lógica, retórica e dialética do Órganon de Aristóteles. Sobre essas bases ergue-se a taça cristalina do pensamento medieval preenchida pelo líquido escuro do paganismo, fazendo erigir o esqueleto do pensamento do primeiro milênio da história ocidental. A taça, contudo, cai com o advento da modernidade. É o que Nietzche chama de morte de Deus, não numa ingênua crença no ateísmo, mas com o anúncio do fim da metafísica, do abandono das ontologias originárias e fundamentais. A queda da taça é a queda da metafísica substancialista que ganhou corpo na filosofia escolástica. Novamente o vídeo se volta para Aristóteles e a Bíblia, é o retorno renascentista aos documentos da Antiguidade. Em seguida, no lugar da taça, que permanece derramada, mas cujo líquido ainda pode ser encontrado em menor ou maior grau nos demais copos, ilustra-se a divisão cartesiana das ciências. O fim da metafísica, da busca por uma ontologia universal para todo o conhecimento, faz surgir várias ciências particulares preocupadas em analisar diferentes setores ônticos da realidade. Uma chama surge como ilustração do Iluminismo, da Era das Luzes. Ah, a Revolução Industrial, berço do modo de produção capitalista é representado pela calculadora e pelo dinheiro. A insuficiência das ciências particulares em prover uma hermenêutica adequada da faticidade leva ao surgimento das filosofias a-ontológicas e progressistas que precedem o século XX. Elas são fluidas como a água que corre da torneira e por isso mais heraclitianas do que parmenedianas. Elas fluem utopicamente em busca de uma evolução rumo a um paraíso utópico, diante das quais qualquer um que já tenha visto a antropologia humana tal qual ela é, se mostraria cético. Mas a doutrina do progresso que parecia tal certa na Belle Époque conduz, por seus ideais utópicos imanentes, ao mais sangrento século da história. O cenário é trágico e ao mesmo tempo revolucionário. Tudo é lançado ao chão sob o custo da faca que se introduz para derramar sangue. É o preço da doutrina moderna do progresso: os piores regimes autoritários e totalitários da história e duas guerras mundiais. O século mais escuro, frio e sangrento da história do qual é possível ouvir um grito ao fundo. O quadro mosaico no final mostra aonde nós chegamos. Ele é indefinível e representa bem o pensamento a-ontológico e epistemologicamente mudo da pós-modernidade.

Comentários

Postar um comentário