O caos

         O caos me marca profundamente. É na literatura que vai e volta, na história circular, na poesia rebuliça, que fui me encontrando, me entendendo... Gosto da palavra contada com paixão. Gosto do encantamento genuíno frente a surpresa do encontro. Gosto desse negócio que chamam de arte... Gosto dessas coisas que reviram a alma e não acontecem em hora programada, quase sempre. Na desorganização me organizo. 
         De vez em quando, é verdade, me incomoda o caos. Saio ajuntando as roupas, pendurando os sapatos, amarrando os cintos... começo a escrever em agendas... Tudo isto, numa tentativa, sempre inútil, de pôr as coisas em seus lugares e inventar ordens certas pra coisas incertas. Costuma, como é de costume, dar certo por um tempo... depois o caos volta e reina. Se incrusta até nas agendas - coisas organizadas por si só - e nos cadernos e suas páginas cheias de adesivos divididos por cores.

         Fiz isso por muito tempo, de brigar com o caos.  Não o aceitava em mim. Mais tarde descobri, fazendo as pazes com as minhas origens, que a vida é mesmo assim... as coisas raramente vêm com sentido pronto na hora certa. O sentido, a ordem ou o caos, a gente que dá, a gente que inventa. Cronograma, fui vendo, é coisa pensada antes de tudo dar errado... eles tem lá sua utilidade útil, mas o cronograma da vida costuma ser o inesperado... ou não costuma? 

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